terça-feira, 24 de novembro de 2015

Incursão na travessa Dom. Romualdo de Seixas e nas Avenidas Alm. Wandenkolk e Visconde de Souza Franco

Método para pesquisa

Nesta etapa, o conceito da Etnografia de Rua das autoras Rocha e Eckert (2001) foi utilizado no sentido de percorrer trechos de três vias coletando cenários e situações para identificar “significados sobre o viver o dia-dia na cidade” (Rocha e Eckert, p.7, 2001).

Como esta etapa busca compreender três trechos das vias travessa Dom. Romualdo de Seixas e das avenidas Almirante Wandenkolk e Visconde de Souza Franco pertencentes ao bairro de Nazaré, esta incursão visou entender os três percursos a partir da importância dada as arquiteturas destas vias.

Com esse intuito, foi refletido uma parte do livro “A estrutura ausente” do autor Umberto Eco (2013), especificamente o capitulo “A Função e o Signo (Semiologia da Arquitetura) ”, o qual é iniciado com a questão da dificuldade que a semiologia tem em dar significado ao signo arquitetônico, por seu significado representar sua função.

 Nesse sentido, o autor trabalha o signo arquitetônico através de uma concepção semiológica na qual:

“O objeto arquitetônico não é, de maneira alguma, um estimulo preparatório que substitui um objeto estimulador na falta deste, mas apenas e tão somente o objeto estimulador” (Eco, p. 194, 2013).

Para o entendimento do signo arquitetônico, o autor cita a análise semiológica de um objeto de outro autor para debate-la. O exemplo de objeto é a escada, a qual, segundo a análise Morrisiana, transmite um triângulo semântico, pois, ela é um símbolo ou veículo signico que “indiretamente a um denotatum e diretamente a um significatum” (Eco, p.194, 2013). 

Diferente desta análise, Eco coloca que o denotatum é um objeto “que existe realmente no modo pelo qual a ele se faz referência” (Eco, p.194-195, 2013), enquanto que o significatum é “aquilo a que o signo se refere” (Eco, p.195, 2013), e o signo arquitetônico pode ter um significatum e não necessariamente um denotatum.

Para Eco, se o signo arquitetônico tiver um denotatum real, denotaria a si mesmo. Quanto ao significatum, Eco coloca que o signo arquitetônico recebe seu significado codificado de um dado contexto social e que por sua vez, é uma hipótese teórica da observação dos usos comunicacionais.

A denotação arquitetônica, segundo Eco, é atribuída, sob aspecto comunicacional, através do significante daquele significado denotado que é a função do signo arquitetônico. O objeto de uso denota convencionalmente sua função. Isso deve acontecer, segundo autor, se houver uma forma de codificar a função do objeto para que o observador denote claramente sua função pois, caso contrário, sua função permanece mística.

A conotação arquitetônica pode denotar ou conotar a função do objeto assim como conotar outras coisas. Eco coloca o exemplo da caverna do homem pré-histórico que, à princípio, tinha a função de abrigo, mas com o passar o tempo passou a conotar “família, núcleo comunitário, segurança” (Eco, p.202, 2013).

Dessa forma, a conotação do objeto é uma qualificação de sua função, que segundo o autor: 

“As conotações “simbólicas” do objeto útil não são menos “úteis” do que suas denotações “funcionais”. E que fique claro que entendemos as conotações simbólicas como funcionais não só no sentido metafórico, mas enquanto comunicam uma utilizabilidade social do objeto que não se identifica imediatamente com a “função” no sentido estrito” (Eco, p.202-203, 2013). 

Nesse sentido, foi pesquisado nas arquiteturas destes três trechos quais os signos arquitetônicos que têm suas denotações claramente perceptíveis ao observador, assim como também foi compreendido como as conotações destes edifícios representam a importância do bairro de Nazaré.


Incursão na travessa Dom. Romualdo de Seixas e nas avenidas Almirante Wandenkolk e Visconde de Souza Franco

Por serem três trechos curtos, duas quadras por via, no total de seis quadras, que ainda seguem por uma longa extensão a fora do bairro de Nazaré, os trechos foram analisados em conjunto a partir da ideia de que, por formarem uma sequência curta de vias paralelas, complementam uma parte do bairro de Nazaré que se aproxima da imagem do bairro, como a avenida almirante Wandenkolk, e se distanciam, criando um novo horizonte, à exemplo dos dois outros trechos. 

Nesse sentido, a análise conjunta destas vias forma uma imagem em que se compreende a importância do urbanismo para a cidade, além de tornar a conotação de algumas edificações mais expressivas.

O primeiro trajeto aconteceu nas duas quadras pertencentes a travessa Dom Romualdo de Seixas que vão da avenida Governador José Malcher até a rua Boaventura da Silva. Neste trecho, no cruzamento com a avenida Governador José Malcher, o trafego de veículos sofre uma grande diminuição ao entrar na travessa. Neste espaço, em toda a extensão das duas quadras, há vagas para estacionamento de carros. 

Além deste ponto de estacionamento, de um lado da quadra, aproximadamente, da metade ao final da quadra, há um terreno da Cosanpa onde não há edificação. Na quadra seguinte, a parte posterior do Hospital Dom. Luiz I coloca uma impressão sobre esta via. 

A condição destas duas quadras nos permite entender que, devido a sua denotação, a conotação arquitetônica não realça uma imagem central do bairro de Nazaré. E também, devido à direção contraria ao centro do bairro, este entorno tem uma aparência estranha, como se nele houvesse um esquecimento do bairro de Nazaré.

Travessa Dom Romualdo de Seixas próximo à R. Boaventura da Silva.
Fonte do autor. Data: 25/09/15.

Diferente deste trecho, a primeira quadra da avenida Almirante Wandenkolk, do limite do bairro de Nazaré com o bairro do Umarizal até a rua João Balbi, o cenário é composto por lojas, bares e restaurantes. Se torna um local de intenso fluxo de veículos para o centro da cidade.

Na quadra seguinte desta avenida, a composição arquitetônica se faz pós-moderna com prédios residenciais de mais de dez pavimentos com calçadas arborizadas planejadas. Neste trecho, uma serie de palmeiras na calçada externa do Edifício Alhambra, localizado na esquina desta avenida com a rua João Balbi, representa um espaço planejado e aconchegante.

Calçada do Edifício Alhambra. Fonte do autor. Data: 25/09/15.

Por esta quadra ir em direção ao centro do bairro de Nazaré e por ser composta por edifícios novos, há uma conotação simbólica de que esta área é valorizada e nobre. Este entorno ainda pode ser conotado desta forma mais claramente. No fim desta avenida, um palacete antigo foi restaurado. O cenário que se forma no cruzamento com a avenida Governador José Malcher é surpreendente.
As cores neutras com que o palacete foi restaurado, com a adaptação de um refinado tom de azul de vidros em suas aberturas, neste entorno sombreado por arvores antigas e prédios novos e bonitos, além de haver uma clara denotação quanto ao uso do palacete restaurado, sua conotação arquitetônica alcança a elegância do ciclo da borracha.

Palacete Antigo Restaurado no final da Av. Wandenkolk.
 Desenho Gráfico. Fonte do autor.

No último trecho deste percurso, as arquiteturas das duas quadras da avenida Visconde de Souza Franco são semelhantes às da travessa Dom. Romualdo de Seixas, porém, a diferença desta para a primeira é que no limite do bairro de Nazaré com o bairro do Reduto, esta avenida se torna o canal da Doca, um espaço com ampla ventilação e movimento.

No início deste trecho, no cruzamento com a avenida Governador José Malcher, um muro bastante grafitado é cenário de uma parada de ônibus. Os ônibus que param nesta quadra, dobram aceleradamente nesta avenida, que por sua vez, é uma ladeira até o canal da Doca.

As arquiteturas desta via são em grande parte modernas. Há um destaque das fachadas que foram projetadas para empreendimentos, como para o restaurante La Traviata, para a construtora Leal Moreira e para o bando Itaú.

Se entende que a declinação da via travou um esforço para a fundação dos edifícios que quase sempre iniciam no nível do solo e terminam alguns metros acima. Apesar desta problemática, estes edifícios compõem um caminho para fora do bairro de Nazaré que representa outra paisagem da cidade de Belém.

Limite do bairro de Nazaré com o bairro do Reduto.
Fonte do autor. Data: 25/09/15.

Concluo esta incursão refletindo o texto da autora Waisman (2013) sobre a tipologia, em que a autora coloca a relação do edifício com o entorno. Segundo Waisman, a analise da tipologia arquitetônica na América Latina não é continua como em países europeus. Para atribuir significado a essas tipologias, deve-se levar em consideração a:

“Interpretação da problemática urbana correspondente e das pautas que o observador considerar positivas para o desenvolvimento da cidade em questão” (Waisman, p. 117, 2013).

Nesse sentido, as denotações e as conotações arquitetônicas estudadas nesta etapa revelam um espaço importante para o bairro que pode ganhar mais reconhecimento se o projeto dos edifícios a construir e existentes, for adaptado adequadamente a necessidade do uso e dialogado com o entorno, para que não haja comprometimento das partes presentes do sitio e que assim o valorize mediante ao juízo histórico.



REFERÊNCIAS

ECO, Umberto - 1932. A Função e o Signo. Semiologia da arquitetura. p. 187-247. IN A Estrutura Ausente. Ed. Perspectiva, SP, 2013
ROCHA, Ana Luiza; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua : estudo de antropologia urbana. Iluminuras – Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001.n° 44.
WAISMAN, Marina. O Interior da História. Historiografia Arquitetônica para uso de Latino-Americanos. Ed. Perspectiva. SP, 2013





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