terça-feira, 24 de novembro de 2015

Incursão na Avenida Governador José Malcher

Método para pesquisa


Esta incursão visou realizar o percurso na avenida Governador José Malcher através da Etnografia de Rua, conceito elabora pelas autoras Rocha e Eckert (2001), que tem como preocupação perceber os “paradigmas estéticos na interpretação das figurações da vida social na cidade” (Rocha e Eckert, p.5, 2001). Nesse sentido, foram utilizados os instrumentos sugeridos pelas autoras para a investigação antropológica: o bloco de anotações e a máquina fotográfica.

Para a reflexão desta pesquisa utilizei o texto do autor Roque de Barros Laraia, “Cultura: um conceito antropológico” (RJ: Jorge Zahar Editorial, 2001), no qual o autor descreve, na primeira parte do livro, as primeiras concepções sobre o conceito de cultura, a evolução da teoria deste conceito durante os séculos XVII, XVIII, XIX, e as tendências atuais.

Na segunda parte do livro, o autor propõe uma análise prática sobre todo passado do conceito para refletir que a cultura “é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (Benedict apud Laraia, p.67, 2001). 

Este entendimento sobre o conceito de cultura é concebido pelo autor através da ideia de que cada sistema tem uma lógica cultural. Nesse sentido, o estudo de uma cultura com mais lógica que outra não significa que exista uma cultura inferior, mas que uma determinada cultura somente pode ser analisada e classificada por pesquisadores a partir do sistema a que pertence. A lógica de um sistema cultural corresponde aos princípios de raciocínios e juízos explícitos nos hábitos conscientes e inconscientes. 

Com isso, Laraia reflete que a cultura é dinâmica e que:

“Qualquer sistema está num continuo processo de modificação (...) a mudança que é incutada pelo contato não representa um salto de um estado estático para um dinâmico, mas antes a passagem de uma espécie de mudança para outra. ” (Laraia, p.96, 2001).

Então, buscar através do conceito de cultura desenvolvido pelo autor Laraia a lógica e a dinâmica cultural da avenida Governador José Malcher pode retomar a importância desta via que, devido a existência de uma grande quantidade de edificações antigas do bairro de Nazaré, entre as quais somam-se boas representações do estilo Ecletismo, Neoclassicismo, Neocolonial, Moderno e Pós-Moderno, corresponde a uma das mais bonitas partes da cidade.

Por este percurso ser a última incursão por avenidas do bairro, todas as demais já percorridas, retirei um epilogo do livro do autor Ítalo Calvino “ As cidades invisíveis” (Companhia das Letras, 1990), no qual Marco Polo, viajante veneziano, e o Imperador Mongol, Kublai Khan, dialogam um sonho sobre a cidade de Lalage:

“Da alta balaustrada do palácio real, o Grande Khan observa o crescimento do império. Primeiro, as fronteiras haviam se dilatado englobando os territórios conquistados, mas o avanço dos regimentos encontrava regiões semidesertas, combalidas aldeias de cabanas, aguaçais em que o arroz crescia mal, populações magras, rios secos, miséria. “É hora de o meu império, crescido demais em direção ao exterior”, pensava Khan, “começar a crescer para o interior”, e sonhava bosques de romãs maduras com as cascas partidas, zebus assados no espeto gotejando gorduras, veias metalíferas que manam desmoronamentos de pepitas cintilantes. 
Agora, muitas estações abundantes abarrotaram os celeiros. A cheia dos rios arrastou florestas de traves destinadas a sustentar tetos de bronze de templos e palácios. Caravanas de escravos deslocaram montanhas de mármore serpentino através do continente. O Grande Khan contempla um império recoberto de cidades que pesam sobre o solo e sobre os homens, apinhando de riquezas e de obstruções, sobrecarregado de ornamentos e incumbência, complicado por mecanismos e hierarquia, inchado, rijo, denso. 
“É o seu próprio peso que está esmagando o império”, pensa Kublai, e em seus sonhos agora aparecem cidades leves como pipas, cidades esburacadas como rendas, cidades transparentes como mosquiteiros, cidades-fibra-de-folha, cidades-linha-da-mão, cidades-filigrana que se veem através de sua espessura opaca e fictícia. 
- Conto o que sonhei esta noite – disse Marco. – Em meio a uma terra plana e amarela, salpicada de meteoritos e massas erráticas, vi erguer-se a distância as extremidades de uma cidade de pináculos tênues, feitas de modo que a lua em sua viagem possa pousar ora num pináculo ora noutro ou oscilar pendurada nos cabos dos guindastes. 
E Polo: 
-A cidade que você sonhou foi Lalage. Os habitantes dispuseram esses convites a uma parada no céu noturno para que a lua permita a cada coisa da cidade crescer e recrescer indefinidamente. 
- Há algo que você não sabe – acrescentou o Khan. – Agradecida, a lua concedeu à cidade da Lalage um privilegio ainda mais raro: crescer com leveza. ” 
(Calvino, p. 69-70, 1990).  

Este epilogo coloca uma das maravilhas de certas cidades que valorizam a permissão do céu. Este trecho do livro do autor Calvino traduz uma questão sobre a cidade de Belém. O bairro de Nazaré tem sua origem no mito do encontro da imagem de Nossa Senhora de Nazaré. A construção e desenvolvimento do bairro se deu séculos após este encontro com a ascensão do ciclo da borracha. 

O que de fato existe quanto cultura material e imaterial no bairro de Nazaré representa estes dois momentos: a devoção a Nossa Senhora de Nazaré e a permissão do céu para construir um templo e uma sociedade na qual concebesse sua graça.

É possível perceber que a avenida Governador José Malcher transparece a leveza com a qual o bairro de Nazaré cresceu assim como é uma evidência de uma cidade que foi sonhada, ou como constrói Ítalo Calvino, uma cidade invisível.

Nesse sentido, um estudo sobre o livro do autor Calvino foi realizado por Canevacci (2004), em seu livro “A Cidade Polifônica” (Studio Nobel, 2004). Segundo Canevacci, o livro de Ítalo Calvino, “As cidades invisíveis”, foi pensado dentro de uma forma literária que mistura tanto elementos arquitetônicos quanto imaginários, o qual se aproxima de uma forma musical ou de um teorema que permite uma equação indemonstrável e verdadeira. 

Canevacci coloca que as cidades invisíveis que Calvino constrói nesta forma literária extraordinária “parecem ter um único rosto; e, no entanto, são infinitas. Constituem um cânone, uma fuga. Mas também um desenho, uma escultura. ” (Canevacci, p.127, 2004).

De acordo com Canevacci, as descrições das cidades invisíveis são feitas em um estilo literário que as entrecruzam em uma sequência sincrônica, mas que também a estrutura completa do livro se torna perspectiva, matemática e música. Contudo, se a compararmos a estas estruturas seria uma música invisível ou um enunciado indemonstrável, pois, segundo o autor, “as formas “invisíveis” das cidades são contextos dentro do qual se produz o pensamento abstrato. Analogias. ” (Canevacci, p. 130, 2004).

Como já descrito antes, a cidade de Belém se aproxima em parte de uma cidade com forma de invisibilidade ou mesmo na forma de uma música ou de um enunciado que, se interpretado por meio desta dissolvência, abstração, ou num máximo distanciamento de conceitos, se torna invisível. 

Assim, reconhecer a lógica e a dinâmica cultural desta avenida através de sua descrição interpretativa pode nos fazer ter uma das melhores imagens do bairro de Nazaré e, com isso, a possibilidade de um destino à salvaguarda de sua paisagem cultural.

Nesse sentido, o percurso foi dividido em três partes. A primeira corresponde aos dois primeiros quarteirões da avenida pertencentes ao bairro de Nazaré no sentido dos automóveis, ou seja, entre as avenidas Alcindo Cacela e a Generalíssimo D., a segunda parte são quatro quarteirões que correspondem ao percurso nesta avenida entra a avenida Generalíssimo D e a travessa Dr. Moraes e a terceira parte, a qual finaliza o percurso, entre a Travessa Dr. Moraes até a avenida Assis de Vasconcelos.

Esta divisão em três partes da incursão tem como intuito atribuir características segmentadas a cada um destes trechos, tendo em vista o extenso universo arquitetônico, para assim elaborar considerações sobre a dinâmica cultural desta avenida e do bairro de Nazaré. 

Primeiro Trecho: Incursão na Av. Governador José Malcher entre as Avenidas Alcindo Cacela e Generalíssimo Deodoro


Este primeiro trecho foi iniciado no cruzamento com a avenida Alcindo Cacela onde a avenida Governador José Malcher muda um pouco direção e se torna paralela às demais vias do bairro de Nazaré. Esta mudança de direção somente pode ser percebida no início deste percurso, na observação deste primeiro cruzamento no limite do bairro de Nazaré.

Início do percurso. Fonte do autor. Data: 20/10/15.

Neste primeiro trecho, as arquiteturas antigas em grande parte foram esquecidas. Estas não são exemplares irreverentes como as do segundo trecho, porém foram construídas de acordo com o padrão da época. 

Dentro da dinâmica desta parte da Avenida Governador José Malcher, o movimento de pessoas pela parte da manhã é forte nas paradas de ônibus, nos semáforos, nos cruzamentos e nos locais de comércio e serviços.

O ápice deste movimento acontece entre a parada de ônibus ao lado da Assembleia de Deus e o cruzamento com a travessa 14 de março, onde pessoas descem dos veículos coletivos e aguardam o semáforo para seguirem com a caminhada.

Parada de ônibus ao lado da Assembleia de Deus.
Fonte do autor. Data: 20/10/15.

Uma questão que pode ser observada é quanto a utilização das arquiteturas antigas para fins comerciais. Neste primeiro trecho, por não haver um Palacete com destaque nem uma restauração criteriosa, uma forma de descrever o que acontece no cotidiano entorno destas arquiteturas é a forma com que são utilizadas.

Próximo ao cruzamento com a avenida Generalíssimo, uma edificação neoclássica se encontra abandonada. Aparentemente é um ponto de estacionamento no qual os carros passam por debaixo da habitação ou pela abertura que foi feita no porão da edificação para a parte posterior do terreno, com isso, percebi que este espaço não guarda somente automóveis, mas também carrinhos de lanches, de brinquedos, e de suvenir os quais são fontes para serviços menores. É possível compreender que a falta de um uso arquitetônico adequado corresponde ao pensamento de poder usufruir o edifício de qualquer forma.

Edificação Neoclássica utilizada como estacionamento.
Fonte do autor. Data: 20/10/15.

A comparação dos prédios desta parte com os do segundo trecho é impressionante. Se nesta primeira parte, as arquiteturas ganham menos observação que o movimento cotidiano de pessoas, na continuação do percurso, os palacetes e edificações são atrações contemplativas da avenida.


Segundo Trecho: Incursão na Av. Governador José Malcher entre a Av. Generalíssimo Deodoro e a Tv. Dr. Moraes

O segundo trecho se inicia no cruzamento com a avenida Generalíssimo Deodoro, onde a imagem da Av. Governador José Malcher, percebida até então, começa a mudar. Nesta primeira esquina, como já descrito em outras incursões, foi construído o Palacete no início do século XX para ser a residência do Governador do Estado.

Este palacete eclético, construído de acordo com as leis estéticas arquitetônicas do ciclo da borracha, se tornou um exemplar a ser seguido por todas construções da época. Nesse sentido, de acordo com Bassalo (2008):

“Nas edificações da belle époque tropical observa-se com frequência a ornamentação no estilo art nouveau. Muitas dessas construções têm a fachada no alinhamento frontal do terreno, com a entrada lateral, na qual normalmente há uma sacada com gradis de ferro e janelas art nouveau. Exibem a platibanda com elementos vazados, a maioria geométricos, dispensando o uso clássico da tradicional platibanda com balaústres. (...)Relevante, também, é o emprego do vidro nas fachadas, incluindo-se os vidros coloridos em recortes geométricos e ornamentos simples. Há casos, no entanto, em que as portas e janelas apresentam na ornamentação dos vidros desenhos orgânicos, alguns lembrando as propostas do novo estilo decorativo. ” (Bassalo, p. 83-85, 2008).

Os detalhes arquitetônicos deste edifício correspondem desde ladrilhos e vidraças com desenhos Art Nouveau até elementos pré-fabricados em ferro como os gradil, estátuas, postes e luminárias. Hoje, este edifício pertence ao museu da Universidade Federal do Pará.

Ao lado do Palacete Augusto Montenegro, outro palacete foi construído também com características que obedeciam às leis vigentes do período. Este outro, mais simplório que o Museu da Ufpa, pertence a uma instituição de ensino a qual o reformou de acordo com a necessidade do uso. 

O dia-a-dia deste edifício é movimentado por alunos e professores que entram e saem dentro do horário de aula. Assim, pela manhã e pela tarde a fachada deste edifício é preenchida por pessoas que se sentam na grade do entorno, que conversam ou que aguardam em um carrinho de lanches ou na banca de revista em frente ao edifício.

Calçada em frente ao Iesan. Fonte do autor. Data: 20/10/15.

Neste trecho da Av. Governador José Malcher, por haver uma grande quantidade de edificações que ainda guardam algumas características deste período, é normal perceber que de tempos em tempos a cor de uma fachada mudou, ou que uma reforma foi feita, ou que o edifício ganhou um novo uso, etc.
Uma das formas de acompanhar estas transições arquitetônicas seria a preservação da paisagem cultural do bairro de Nazaré como patrimônio material e imaterial. Porém, este compromisso pode atrasar os investimentos econômicos que acontecem esporadicamente. Daí a interpretação de alguns autores sobre a paisagem cultural através de uma visão econômica. 

Nesse sentido, ao passar por um chalé antigo, com características ecléticas do período da belle époque, registrei o momento em que o mesmo recebia uma nova cor para corresponder a cor da empresa que irá o ocupar. Conclui-se que a preservação da paisagem não livrará os edifícios antigos de novas intervenções.

Chalé antigo sendo reformado.
Fonte do autor. Data: 20/10/15

Contudo, ainda assim, dar um uso a um edifício é uma forma de o tornar vivo. O contraste disto é a falta de uso. Por exemplo, uma edificação construída também no início do século XX encontra-se abandonada. Este Palacete conhecido como Palacete Bibi, construído por Francisco Bolonha, tem características ecléticas e detalhes rebuscados em ferro como o gradil e as estátuas, as aberturas e as coberturas.

É um exemplo belo de construção da belle époque devido a sua localização no cruzamento da avenida Governador José Malcher com a passagem Joaquim Nabuco, o que transparece a grandeza e a beleza de suas fachadas. Além da perspectiva, a composição de suas cores realça um aspecto característico de castelos europeus. 

Palacete Bibi. Fonte do autor. Data: 20/10/15. 

Nesta avenida, existem exemplares arquitetônicos que demonstram como é importante e possível realizar uma restauração criteriosa, dar um uso adequado e adaptar o edifício ao entorno.

No cruzamento desta avenida com a avenida Alm. Wandenkolk, um palacete antigo, construído no início do século XX, semelhante ao Palacete ao lado do Museu da Ufpa, foi restaurado de modo consciencioso, onde se torna possível o entendimento da valorização da instancia estética.  

A restauração fez com os ornamentos do edifício ficassem suavizados e transparentes enquanto que os refazimentos de outrora esquecidos, tonaram-se percebidos. De certo, a restauração manteve a clareza arquitetônica deste edifício para nele funcionar uma agência bancária.  

Seguindo nesta mesma quadra da avenida, um outro edifício, localizado próximo a travessa Quintino Bocaiuva, com apenas um pavimento e com características do período do ecletismo, recebeu um uso adequado, o qual pouco interveio na parte física do edifício. Acredito que esta é uma boa alternativa para a utilização um de edifício antigo.

Edificação eclética onde são realizados cultos messiânicos.
Fonte do autor. Data: 20/10/15. 

Seguindo o trajeto, entre as travessas Benjamin Constant e a Dr. Moraes, um Edifício Eclético, também construído no início do século XX, faz parte de um entorno contemporâneo. Pode-se ver através da imagem abaixo que a urbanização desta área como os cabos elétricos, o asfaltamento, as calçadas para cadeirantes, tornaram esta quadra um lugar de passagem de pessoas com comércio e serviço, e um corredor de trânsito.

Quadra entre as travessas Benjamin Constant e Dr. Moraes.
 Fonte do autor. Data: 20/10/15. 

Nestas condições contemporâneas, as edificações antigas se destacam pois são como uma possibilidade para o reconhecimento da origem e da história do bairro de Nazaré. Entre as demais construções, em grande quantidade existem edifícios verticais, edifícios modernos e pós-modernos, assim como uma variedade de habitações antigas neoclássicas e ecléticas com aquele aspecto do tempo nas fachadas conhecido como pátina.

Os exemplos explorados nesta incursão visaram buscar uma expressão da avenida Governador José Malcher. Ao mesmo tempo, esta grande tarefa é um desfecho para dar uma possibilidade para o todo.   

Terceiro Trecho: Incursão na Av. Governador José Malcher entre a Tv. Dr.  Moraes e a Av. Assis de Vasconcelos

Finalizando o percurso, o último trecho se inicia no cruzamento com a travessa Dr. Moraes onde está localizado um dos melhores exemplares arquitetônicos do período do ecletismo, o Palacete Bolonha. Segundo Derenji (2009), este palacete foi construído pelo engenheiro Francisco Bolonha, autor e proprietário do projeto, o qual era empresário e “concessionário de prédios públicos de grande porte, como os mercados, e de quiosques de vendas” (Derenji, p. 207, 2009). 

A autora descreve que os projetos do engenheiro Bolonha eram elaborados através de práticas inovadoras, onde o engenheiro projetava a linguagem do ecletismo para tornar seus prédios emblemáticos em cada cidade.

Este palacete localizado neste trecho da incursão é uma das melhores representações arquitetônicas da belle époque reconhecido como “castelo de sonho” (Derenji, p. 209, 2009) e de acordo com Derenji:

“A residência de Bolonha foi projetada para uso de um casal, distribuindo-se em três pavimentos e um mirante. Tem múltiplas divisões internas e decoração carregada em dourados e estuques – estes de autoria do maranhense Newton de Sá –, azulejos decorados, mosaicos e revestimentos variados. A decoração utiliza reproduções de mosaicos de Pompéia, relevos com temática greco-romana, azulejos art nouveau, pisos em vidro e, no exterior, telhas em ardósia colorida, com detalhes de acabamento em ferro para o telhado em mansarda com torreão. Dispondo de um grande terreno, Bolonha criou uma rua particular (hoje de circulação pública), onde distribuiu as casas que compunham o conjunto, dispondo sua própria casa numa solução em altura. O prédio se volta para o interior, sem jardins, sem grandes aberturas, deixando a vista e os benefícios da ventilação apenas para a torre. Um dos engenheiros mais conhecidos da cidade no início do século XX, Bolonha construiu para si próprio uma residência rica, de abundante decoração e pouca praticidade. Teve função residencial por alguns anos depois da morte do proprietário, no início do século XX, e depois passou ao poder público. Ficou vários anos sem utilização perdendo, pelo abandono, muitos detalhes e elementos decorativos. Atualmente está restaurada e abriga um centro de atendimento a idosos. ” (Derenji, p. 209-210, 2009).

Após este Palacete, a avenida Governador José Malcher se torna uma via com um traçado urbano orgânico com uma leve inclinação até a avenida Assis de Vasconcelos, composta por algumas edificações modificadas e outras novas.

A paisagem deste final de percurso cria a imaginação de que este trajeto percorrido poderia ser mais uma cidade no mapa, porém, ao percorre-lo o transeunte percebe que existem edificações semelhantes à castelos com um desfecho semelhante a uma rota de saída medieval, estreita e orgânica. Esta perspectiva final deste trecho nos sugere a compreensão de uma avenida utópica e imaginária. 

Talvez, a forma de compreender a incursão nesta avenida e as incursões no bairro de Nazaré seja imaginando-as em uma cidade invisível, devido a celebração e consentimento do mito de origem do bairro de Nazaré e a forma com que a cidade foi expandida e conservada.

Assim, cabe ao pesquisador saber posicionar-se para a observação dos momentos de expressões deste sistema-cultural tanto ao nível individual quanto coletivo. Perceber a diversidade produzida por esta estrutura de um ponto de vista etnográfico, estético e imaginário pode alcançar alguma satisfação do próprio meio e, com isso, gerar um incentivo a preservação.

Última quadra da avenida Governador José Malcher.
Fonte do autor. Data: 20/10/15.



REFERÊNCIAS

BASSALO, Célia Coelho. Art Nouveau em Belém. Brasília, DF: Iphan/Programa Monumenta, 2008.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Companhia das Letras, 1990, 1º edição.
CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica. Ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. 2ª ed. SP, Studio Nobel, 2004.
DERENJI, Jussara. Igrejas, Palácios e Palacetes. Brasília, DF: Iphan/Programa Monumenta, 2009.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
ROCHA, Ana Luiza; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua : estudo de antropologia urbana. Iluminuras – Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001.n° 44.

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