domingo, 22 de novembro de 2015

Incursão na Rua João Balbi

Método para pesquisa

Para esta incursão na Rua João Balbi foram utilizados dois conceitos, o da Etnografia de Rua das autoras Rocha e Eckert (2001), o qual realiza uma caminhada sem destino fixo para coletar “significados sobre o viver o dia-dia na cidade” (Rocha e Eckert, p.7, 2001), e o conceito de cultura descrito pela autora Leslie White (2009).

Para autora White, o homem é um animal capaz de simbolizar, ou seja, é capaz de:

“originar, definir e atribuir significados, de forma livre e arbitraria, a coisas e acontecimento no mundo externo, bem como de compreender esses significados” (White, p.9, 2009). 

Dessa forma, o homem é um animal simbolizador e a cultura é definida em termos de simbolização, como “crenças, ideologias, organização social e tecnologia” (White, p.23, 2009).

Para este estudo, White descreve que a cultura surgiu através do processo de evolução e revolução do homem simbolizador com a expressão de conceitos em um discurso articulador, ou seja, através da simbolização e do discurso articulador o homem expressou suas relações sociais em direitos e deveres.

Com isso, a autora coloca que:

“O papel da cultura é tornar a vida segura e duradoura para a espécie humana (...) A função da cultura é atender às necessidades do homem para tornar a vida segura e duradoura” (White, p.29, 2009). 

Para o estudo da cultura, a autora questiona a origem, a função e as variações culturais.

Nesse sentido, a questão quanto ao estudo da origem e da função da cultura se torna necessário o conhecimento da relação do home com a cultura, enquanto que para o estudo das variações culturais a autora coloca três termos a serem estudados: quanto ao tempo, ao lugar e povo.

Para cada uma destas variações, o estudo do homem não se torna necessário como coloca a autora: 

“O homem físico é necessário para que a cultura exista, mas não para explicar as variações dela” (White, p.35, 2009).

Tendo em vista este conhecimento, o trajeto foi realizado buscando os símbolos que representam a cultura e suas variações. Foram coletadas imagens através da máquina fotográfica que representam uma parte da paisagem cultural que está se formando no decorrer das incursões, assim como, através do caderno de anotações, houve a descrição da simbolização do ser humano no cotidiano.


Incursão na Rua João Balbi

Esta incursão pela João Balbi foi iniciada no limite do bairro de Nazaré, no cruzamento com a avenida Alcindo Cacela, e a percorreu por seis quadras até a travessa Quintino Bocaiúva. Nas duas primeiras quadras desta rua, estilos arquitetônicos diferentes constroem uma paisagem que monta uma parte da história da arquitetura, do urbanismo e da cidade de Belém.

Percebe-se que conforme o ser humano adquiri a necessidade de se adaptar as variações culturais, novos avanços tecnológicos são conquistados para a sua satisfação. 

Nestas duas quadras se vê o dialogo da mudança do tempo com a arquitetura. Neste trecho, o meio arquitetônico representa esta aspiração humana de renovar sua identidade e por não haver uma organização legal quanto às características estéticas da construção, edifícios de vários estilos misturando-se sem que o observador consiga destacar qual a característica mais expressiva.

Contudo, os estilos arquitetônicos que tiveram relevância para a história da arquitetura e da cidade de Belém, como o eclético, neoclássico, moderno, entre outros, são representados em casos simbólicos nesta travessa.

A grande parte das edificações destas duas quadras foram conservadas com uso residencial. A conservação deste lugar nobre e plano, bem arborizado e com aspectos higiênicos adequados torna a perspectiva desta rua uma singular e expressiva parte da paisagem cultural do bairro de Nazaré.

De lote em lote, esta ambiência arquitetônica é sentida nas adaptações e nas novas construções que transmitem uma transparente simbolização da construção da cultura do ser humano.

R. João Balbi entre 14 de março e Generalíssimo.
Fonte do autor. Data: 25/09/15.

Na quadra seguinte, após estas duas primeiras quadras localizadas entre as avenidas Alcindo Cacela e Generalíssimo D., após o cruzamento desta última avenida, o transeunte se depara com um espaço diferente do qual a travessa se inicia. 

De um lado, vários parentes de pessoas internadas no Hospital Beneficente próximos ao ponto de taxi e da garagem do Hospital. No lado oposto, algumas habitações que se confundem, sem qualquer identidade arquitetônica. O contraste deste trecho com o primeiro é realçado com a quadra seguinte.

Entre as travessas Dom. Romualdo de Seixas e a avenida Almirante Wandenkolk, o cenário urbano transmite um clima inóspito, devido à ausência de edificações em um grande terreno de esquina, onde há a caixa d´água da Cosanpa. 

Esta parte da João Balbi não tem destaque e não somente pela ausência de edifícios, mas também pelo aspecto de abandono de alguns edifícios no entorno, por este espaço ter se tornado uma área de estacionamento de carros e também devido à parte posterior do hospital, onde não há movimentação de pessoas, como mostra o registro de campo.

Travessa Dom. Romualdo de Seixas com a João Balbi.
Fonte do autor. Data: 25/09/2015

Percorrendo as três quadras seguintes do trajeto percebe-se outras características da variação cultural quanto a necessidade de adaptação da tecnologia. Somente em três quadras desta rua, mais de cinco edifícios verticais estão sendo construídos. 

Nesse sentido, estes processos construtivos se tornam fundamentais para a noção das “tipologias estruturais”, conceito tratado pela autora Waisman (2013). Segundo a autora, as tipologias arquitetônicas podem ser entendidas de duas formas: 

“Como instrumento ou como princípio da arquitetura; o primeiro derivado da consideração histórica do tipo; o outro, de sua abstração do devir histórico. ” (Waisman, p.99, 2013).

Ao tratar a tipologia através de sua dupla condição de conhecimento, pois apresentam um momento individualizador e generalizador, a autora coloca que, devido a diversidade de ciências da cultura, os conceitos de estilo, tipo ideal, estrutura, tipo e tipologia surgem como forma de compreender as tipologias.

Nesse sentido, Waisman conduz o entendimento da tipologia durante o movimento moderno, a qual se tornou um “sujeito histórico”, histórico devido aos elementos fundamentais que a compunham, em seguida, o entendimento durante o período das tendências arquitetônicas, quando a tipologia se tornou uma “rede de relações topológicas”, para concluir colocando que a noção de tipologia arquitetônica está no entendimento de sua estrutura e estilo.

Estas duas noções são dialogadas pela autora através do estudo da tipologia como instrumento. Este estudo pode ser realizado considerando a tipologia:

Como pauta para a periodização

Como objeto de estudo;

Como pauta para a organização do material histórico;

Como base para análise crítico-histórica dos fatos arquitetônicos. (Waisman, p .109, 2013).

E se o estudo quiser dar significado a tipologia, torna-se necessário o estudo da “tipologia estrutural, a de relação entre a obra e o entorno, a dos modos de utilização das técnicas ambientais. ” (Waisman, p. 115, 2013).

O estudo da tipologia estrutural confronta o uso das condições locais da tecnologia com a dos países desenvolvidos. A autora critica o modo de solucionar a fachada ou a arquitetura com adaptação da nova tecnologia, semelhante aos exemplos norte americanos e europeus. 

Para a autora, a utilização da tipologia por influência das culturas dominantes constrói uma lacuna, como coloca Waisman:

“Essa lacuna se deve, em geral, à utilização de tipologias estruturais atribuídas a determinadas tipologias formais que, por influência das culturas arquitetônicas dominantes, substituem arbitrariamente as existentes, sem que a tipologia funcional o exija ou sem buscar soluções próprias das possíveis exigências. Acaba-se perseguindo, em vez de uma realização tecnológica integral, uma imagem tecnológica avançada” (Waisman, p. 119, 2013).

Com isso, após perceber que a maioria das construções verticais deste final de trajeto terão esta tipologia estudada pela autora Waisman, entendi que haverá cada vez menos uma imagem da cidade para ser estudada a variação cultural. 

Ainda assim, nestas três ultimas quadras, existem casos em que a arquitetura antiga ou foi esquecida, ou foi restaurada através de adições e em poucos casos permaneceram.

R. João Balbi no cruzamento com a travessa Quintino Bocaiuva.
Fonte do autor. Data:25/09/2015.

Para concluir, cabe a ideia de que no início deste percurso, a perspectiva se tornará histórica se for mantida como está, enquanto que na maior parte do percurso, o conhecimento da arquitetura pode ser estudado através de seu significado especifico, cabendo ao pesquisador desenvolver um método com profundidade em cada caso.


REFERÊNCIAS

ROCHA, Ana Luiza; ECKERT, Cornelia. Etnografia de Rua : estudo de antropologia urbana. Iluminuras – Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001.n° 44.
WAISMAN, Marina. Tipologia (p.99-119), IN O interior da história: historiografia arquitetônica para o uso latino-americanos. SP: Perspectiva, 2013.
WHITE, Leslie A., 1900-1975. Capítulos 1 e 2: A base da Cultura: O símbolo; Homem e Cultura, p. 09-35. IN: O conceito de Cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.

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