Nesta incursão, foi utilizado o método da Etnografia de Rua proposto pelas autoras Rocha e Eckert (2001). Este método sugere uma incursão sem destino fixo, através de uma “caminhada de natureza egocêntrica, funcional, mas também poética, fabulatória e afetiva” (Rocha e Eckert, p. 1, 2001).
Com esse intuito, realizei esta incursão refletindo o livro do autor Ítalo Calvino, “As cidades invisíveis” (Companhia das Letras, 1990) em que Calvino conta o diálogo entre o viajante veneziano Marco Polo e o imperador Mongol Kublai Khan, no qual, tal como as mil e uma noites de Scherazade, as cidades invisíveis pertencentes ao império mongol são recitadas pelo italiano ao imperador.
Selecionei uma das passagens de Calvino em que há o diálogo entre o imperador Khan e Marco Polo para transparecer um sentimento recorrente em minhas incursões, um pensamento redundante sobre o destino da cidade após a descrição da incursão, algo sobre a ideia de satisfazer o que percebi através da descrição, em outras palavras, como tentar expressar aquele momento que não voltará a ocorrer:
Com esse intuito, realizei esta incursão refletindo o livro do autor Ítalo Calvino, “As cidades invisíveis” (Companhia das Letras, 1990) em que Calvino conta o diálogo entre o viajante veneziano Marco Polo e o imperador Mongol Kublai Khan, no qual, tal como as mil e uma noites de Scherazade, as cidades invisíveis pertencentes ao império mongol são recitadas pelo italiano ao imperador.
Selecionei uma das passagens de Calvino em que há o diálogo entre o imperador Khan e Marco Polo para transparecer um sentimento recorrente em minhas incursões, um pensamento redundante sobre o destino da cidade após a descrição da incursão, algo sobre a ideia de satisfazer o que percebi através da descrição, em outras palavras, como tentar expressar aquele momento que não voltará a ocorrer:
“O Grande Khan sonhou com uma cidade – descreveu-a para Marco Polo:
- O porto é aperto na parte setentrional, à sombra. O cais é alto e a água escura bate contra os muros, que apresentam escadas de pedra escorregadias por causa das algas. Barcos untados de piche aguardam no atracadouro os parentes que retardam a partida despedindo-se dos familiares. As despedidas se dão em silêncio mas com lágrimas. Faz frio; todos usam xales na cabeça. Um chamado do marinheiro interrompe a espera; o viajante aninha-se na proa, afasta-se observando os que permaneceram; já não se distingue o traçado da costa; há neblina; o barco atraca a um navio ancorado; uma figura encolhida sobe as escadas; desaparece; ouve-se o som da corrente enferrujada que raspa no escovém. Os que permaneceram debruçam-se nos bastiões sobre os recifes do molhe para acompanhar o navio até que este dobre o cabo; agitam pela última vez os lenços brancos.
- Ponha-se em viagem, explore todas as costas e procure essa cidade – diz o Khan para Marco. – Depois volte para me dizer se o meu sonho corresponde à realidade.
- Perdão, meu senhor, sem dúvida cedo ou tarde embarcarei nesse molhe – diz Marco -, mas não voltarei para referi-lo. A cidade existe e possui um segredo muito simples: só conhece partidas e não retornos. ” (Calvino, p. 55, 1990).
Com isso, considero que a descrição de uma incursão deve corresponder ao que se percebeu durante a coleta das situações, cenários, expressões, empregando a intensão ao momento, e assim, montar a história da cidade por seus movimentos, seus gestos e olhares.
Percurso pela avenida Generalíssimo Deodoro realizado em uma sexta-feira à tarde
Durante a incursão na avenida Generalíssimo Deodoro, iniciada no limite do bairro de Nazaré com o bairro do Umarizal, no cruzamento desta avenida com a rua Boaventura da Silva, logo na primeira quadra, um edifício antigo com características da estética da arquitetura do classicismo imperial, todo branco, tem a extensão da quadra inteira.
Este edifício observado, corresponde ao Hospital Dom Luiz I, construído no início do século XX pela Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Pará. De acordo com Figueiredo (2015), este modelo de edifício foi reproduzido também no Hospital da FAFE em Portugal e no Hospital do Rio de Janeiro.
Este Hospital na avenida Generalíssimo já sofreu algumas intervenções que representam as necessidades para a adaptação às mudanças temporais. Ainda assim, este guarda os traços importantes de sua identidade arquitetônica, registrada em cartões-postais.
Este edifício observado, corresponde ao Hospital Dom Luiz I, construído no início do século XX pela Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Pará. De acordo com Figueiredo (2015), este modelo de edifício foi reproduzido também no Hospital da FAFE em Portugal e no Hospital do Rio de Janeiro.
Este Hospital na avenida Generalíssimo já sofreu algumas intervenções que representam as necessidades para a adaptação às mudanças temporais. Ainda assim, este guarda os traços importantes de sua identidade arquitetônica, registrada em cartões-postais.
Neste quarteirão, o movimento de carros é intenso enquanto poucas pessoas circulam o entorno do hospital. O ponto principal desta quadra é no cruzamento da avenida Generalíssimo Deodoro com a travessa João Balbi onde há familiares de pessoas internadas no hospital à espera.
Diferente desta quadra, no quarteirão seguinte, existe um aumento de pessoas entorno de comércios e serviços. Uma característica deste espaço é o início do quarteirão, onde um prédio recém construído já dispõe de salas para alugar. No decorrer desta quadra, lojas de utensílios médicos e consultórios representam um local que visa a necessidade da saúde das pessoas.
Um movimento marcante desta avenida, que pode ser percebido por transeuntes e condutores de veículos, é a intensa circulação de vendedores ambulantes no cruzamento com a avenida Governador José Malcher. São comercializadas frutas, peças de carros, produtos eletrônicos. Causa uma grande concentração de veículos pois, ao venderem seus produtos, os ambulantes seguram o condutor até que faça a troca, criando um caos urbano.
Diferente desta quadra, no quarteirão seguinte, existe um aumento de pessoas entorno de comércios e serviços. Uma característica deste espaço é o início do quarteirão, onde um prédio recém construído já dispõe de salas para alugar. No decorrer desta quadra, lojas de utensílios médicos e consultórios representam um local que visa a necessidade da saúde das pessoas.
Um movimento marcante desta avenida, que pode ser percebido por transeuntes e condutores de veículos, é a intensa circulação de vendedores ambulantes no cruzamento com a avenida Governador José Malcher. São comercializadas frutas, peças de carros, produtos eletrônicos. Causa uma grande concentração de veículos pois, ao venderem seus produtos, os ambulantes seguram o condutor até que faça a troca, criando um caos urbano.
Cruzamento da Av. Generalíssimo Deodoro com a Av. Gov. José Malcher. Fonte do autor. Data: 18/09/15. |
Na quadra seguinte, o cenário se torna um local de intensa movimentação nas calçadas. Entre as avenidas Governador José Malcher e Nazaré, a avenida Generalíssimo é passarela de pessoas que vão às universidades, localizadas neste quarteirão, às lanchonetes, aproximadamente, são 6 em toda quadra, às lojas de suvenir como papelarias/xerox/utensílios escolares, matérias eletrônicos/apetrechos telefônicos, assim como para as farmácias e consultórios médicos.
O excesso de comunicação visual unida a arborização antiga, cria um cenário urbano charmoso, além de haver a simultaneidade de movimentos humanos que constroem a cena de uma feira ou desfile ao ar livre.
No atravessar desta quadra, chega-se ao Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN). Este espaço antigamente se chamava arraial de Nazaré, hoje se tornou um Santuário. No entorno do CAN, existem desde lojas multinacionais até vendedores ambulantes. Alguns serviços populares disponíveis apresentam uma dedicação honesta e segura. Conversei com o seu Luís que me explicou como era a rotina do CAN e seu serviço como moto táxi:
Eu: Este ponto de moto taxi funciona a muito tempo?
- Sim. Este ponto já está funcionando a 3 anos e meio. Somos só nos da cooperativa AMPUB, e trabalhamos apenas neste ponto a partir de 8:00 horas até às 20:30 horas.
Eu: O movimento é bom no período do Círio?
- Com certeza. Durante o Círio e o Arraial nós intensificamos nossa corrida. A frequência de clientes aumenta neste período. Até o Natal, o movimento é bom.
Eu: Com a chuva piora?
- A chuva atrapalha ainda mais no inverso, janeiro, fevereiro, não dá nenhum movimento.
Eu: Nunca havia percebido que existia este ponto de moto taxi. Em frente à Basílica não seria melhor?
- Em frente a Basílica não pode nem parar. Colocaram o sinal e construíram uma calçada. Nem taxi pode marcar ponto ali. A Ctbel não permite.
(Entrevista em 18/09/15).
Adiante, na quadra seguinte, entre as avenidas Nazaré e Gentil Bitencourt, a avenida Generalíssimo se torna um lugar calmo e sem muitos informativos, porém, ainda com forte movimento comercial, como restaurantes sofisticados, lojas com vitrines, farmácias com vagas de estacionamento, posto de gasolina com loja de conveniência e com um pequeno shopping adaptado.
Na seguinte, entre as avenidas Gentil Bitencourt e Conselheiro Furtado, a maioria das edificações se torna residencial, algumas com comercio no ambiente de entrada. Neste quarteirão, devido a diminuição de arborização, de uma esquina a outra o céu brilha mais que nas outras quadras, criando assim, uma corrente que une o primeiro edifício descrito, o CAN e este final de percurso.
Desde o início, até o final do trajeto, percebe-se que há lojas e serviços diversos. Conforme foi descrito, a avenida Generalíssimo Deodoro representa uma imagem de constante movimentação, com aumento de pessoas entre as quadras do Santuário de Nazaré.
Esse espaço acolhe as pessoas que moram em Belém e em outras regiões, como se este trajeto dialogasse uma face da cultura que nós temos e cultivamos. Assim, este percurso transmite uma imagem de como conseguimos cultivar nossa história e cultura.
Vemos desde a criação do bairro de Nazaré, representado pelo hospital Dom Luiz I, até a consolidação do Círio de Nazaré como patrimônio cultural imaterial da humanidade em 2014, como caminha a humanidade por seus hábitos, costumes, jeitos, afetos, e assim, da mesma forma que a vemos, construímos nossa cidade, nossas vidas, nossos amores e destinos.
REFERÊNCIAS
Belém da Saudade: A Memória de Belém do Início do século em Cartões-Postais. 2º edição. Secult, 1998.
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Companhia das Letras, 1990, 1º edição.
ROCHA, Ana Luiza; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua: estudo de antropologia urbana. Iluminuras - Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001, nº 44.
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