Reflexão sobre o conceito de superestrutura de Walter Benjamin e o estado de conservação de dois edifícios
Em uma incursão pelo bairro de Nazaré, utilizando a Etnografia de Rua, conceito elaborado pelas autoras Rocha e Eckert (2001), e refletindo o texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, especificamente quando Benjamin desenvolve o pensamento sobre a superestrutura, nesta parte do texto:
Com esta reflexão, iniciei uma incursão pelo bairro de Nazaré coletando exemplos arquitetônicos que refletem esta introdução do texto de Benjamin.
Na rua Boaventura da Silva, entre a avenida Alcindo Cacela e a travessa 14 de março, uma edificação localizada no lado direito de quem passa com automóvel, numerada por 1308, tem uma estrutura semelhante aos palacetes históricos do período do ciclo da borracha sendo que esta edificação é uma habitação unifamiliar, geminada e com todas características do estilo eclético como escadas laterais, porão, colunas e ornamentos em uma fachada sem recuo.
Neste caso especifico, são duas fachadas que transmitem uma imagem unívoca. De um lado, uma superfície arquitetônica restaurada com cores neutras e adequadas ao valor estético presente em seus detalhes.
Uma prova desta clareza transmitida pelas cores desta edificação são os contrastes de sombras e brilhos em face a iluminação solar, o que causa um impacto conservador e assim, uma proposta ao observador para realizar uma prospecção da beleza.
Em contraste a este lado, a face direita desta arquitetura está envelhecida, com o aspecto da decadência que representou a cidade de Belém no período da estagnação da economia do ciclo da borracha. É possível refletir, contudo, que há um lado com valor estético assim como, no lado direito da arquitetura, o valor histórico ou de antiguidade representa a pátina desta arquitetura.
Existem projetos que arcam com a unidade potencial do edifício para uma restauração. Nesta apresentação e em meio a edifícios novos, uma intervenção contemporânea o tornaria incluso ou integrado ao entorno. Memórias, imaginações e olhares volveriam com vontade de espelhar a história.
Em uma incursão pelo bairro de Nazaré, utilizando a Etnografia de Rua, conceito elaborado pelas autoras Rocha e Eckert (2001), e refletindo o texto de Walter Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, especificamente quando Benjamin desenvolve o pensamento sobre a superestrutura, nesta parte do texto:
“Tendo em vista que a superestrutura se modifica mais lentamente que a base econômica, as mudanças ocorridas nas condições de produção precisam mais de meio século para refletir-se em todos os setores da cultura” (Benjamin, p. 165, 1985).
Com esta reflexão, iniciei uma incursão pelo bairro de Nazaré coletando exemplos arquitetônicos que refletem esta introdução do texto de Benjamin.
Na rua Boaventura da Silva, entre a avenida Alcindo Cacela e a travessa 14 de março, uma edificação localizada no lado direito de quem passa com automóvel, numerada por 1308, tem uma estrutura semelhante aos palacetes históricos do período do ciclo da borracha sendo que esta edificação é uma habitação unifamiliar, geminada e com todas características do estilo eclético como escadas laterais, porão, colunas e ornamentos em uma fachada sem recuo.
Neste caso especifico, são duas fachadas que transmitem uma imagem unívoca. De um lado, uma superfície arquitetônica restaurada com cores neutras e adequadas ao valor estético presente em seus detalhes.
Uma prova desta clareza transmitida pelas cores desta edificação são os contrastes de sombras e brilhos em face a iluminação solar, o que causa um impacto conservador e assim, uma proposta ao observador para realizar uma prospecção da beleza.
Em contraste a este lado, a face direita desta arquitetura está envelhecida, com o aspecto da decadência que representou a cidade de Belém no período da estagnação da economia do ciclo da borracha. É possível refletir, contudo, que há um lado com valor estético assim como, no lado direito da arquitetura, o valor histórico ou de antiguidade representa a pátina desta arquitetura.
Existem projetos que arcam com a unidade potencial do edifício para uma restauração. Nesta apresentação e em meio a edifícios novos, uma intervenção contemporânea o tornaria incluso ou integrado ao entorno. Memórias, imaginações e olhares volveriam com vontade de espelhar a história.
A restauração de um edifício antigo necessita de uma seleção sobre quais as partes iram ser preservadas ou esquecidas, esta ação é resolvida, segundo Brandi (2008), através da escolha criteriosa quanto a instancia da historicidade e quanto a instancia estética.
Para Brandi, ao iniciar uma reflexão sobre o restauro, deve-se respeitar o “juízo de valor” o qual “determina a prevalência de uma ou de outra instancia” (Brandi, p.11, 2008).
Por se tratar do restauro de uma obra de arte, principio pelo qual o restauro se torna um ato critico, a restauração deve privilegiar a instancia estética.
Para Brandi, ao iniciar uma reflexão sobre o restauro, deve-se respeitar o “juízo de valor” o qual “determina a prevalência de uma ou de outra instancia” (Brandi, p.11, 2008).
Por se tratar do restauro de uma obra de arte, principio pelo qual o restauro se torna um ato critico, a restauração deve privilegiar a instancia estética.
Logo, um restauro criterioso deve ocorrer neste edifício antigo seguindo a teoria da restauração de Brandi para que a adaptação da cultura aconteça. O outro estudo reflete um edifício neoclássico que demonstra claramente o que ocorre quando não há uma ação de restauro.
Na esquina da avenida Generalíssimo Deodoro com a avenida Governador José Malcher, em frente ao palacete Augusto Montenegro, este edifício branco foi construído no início do século XX, como registrados em cartões postais.
Nesta época, o entorno deste edifício foi projetado de acordo com as leis que estabeleciam a higiene, a iluminação e o transporte público. Foram construídos sistemas de esgoto, de energia, de calçamento de calçadas e vias com trilhos para bondes elétricos.
Como pode se vê no lado direito do cartão postal, os elementos neoclássicos correspondem ao período em que as leis estéticas da construção arquitetônica propostas pela intendência municipal de Belém eram seguidas a rigor.
Os detalhes arquitetônicos sobreviveram as mudanças que ocorreram no prédio como as colunas com capitel nas fachadas sem recuo, as aberturas arqueadas em harmonia, o beiral e a platibanda com ornamentos, porém, esta edificação apresenta um aspecto neutro, sem nenhum detalhe com destaque.
Até o século XXI, esta edificação já teve pelo menos três utilidades: ponto para a garagem de carros, centro de reunião de partidos políticos e hoje, está para alugar.
Como pode se vê no lado direito do cartão postal, os elementos neoclássicos correspondem ao período em que as leis estéticas da construção arquitetônica propostas pela intendência municipal de Belém eram seguidas a rigor.
Os detalhes arquitetônicos sobreviveram as mudanças que ocorreram no prédio como as colunas com capitel nas fachadas sem recuo, as aberturas arqueadas em harmonia, o beiral e a platibanda com ornamentos, porém, esta edificação apresenta um aspecto neutro, sem nenhum detalhe com destaque.
Até o século XXI, esta edificação já teve pelo menos três utilidades: ponto para a garagem de carros, centro de reunião de partidos políticos e hoje, está para alugar.
Como coloca Benjamin, a superestrutura se move lentamente frente as bases econômicas. Reflito que esta edificação pode permanecer de pé por sua localização e história, porém, sua utilidade será o meio de adaptação da superestrutura com os setores culturais.
Edifício Neoclássico na esquina da avenida Governador José Malcher. Fonte do autor. Data: 04/09/15. |
REFERÊNCIAS
Belém da Saudade: A Memória de Belém do Início do século em Cartões-Postais. 2º edição. Secult, 1998.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. IN: Magia e técnica, arte e política. Ensaio sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas, vol. 1, 3º edição. Editora brasiliense, 1985.
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia, SP. Ateliê Editorial, 2004.
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