terça-feira, 1 de setembro de 2015

Compreendendo ações no bairro de Nazaré

Incursão pela Avenida Generalíssimo Deodoro e pela Avenida Nazaré: Ensaio sobre a cidade polifônica.


Nesta incursão percorri as Avenidas Generalíssimo Deodoro e a Avenida Nazaré, desde o limite do bairro de Nazaré com o bairro do Umarizal até o fast-food da Mc Donald’s, com o intuito de perceber o conceito da cidade polifônica do antropólogo italiano Massimo Canevacci.

O conceito da cidade polifônica, segundo o autor, pretende dar voz as vozes da cidade. A experiência de perceber a cidade polifônica, segundo Canevacci, desperta “o querer perder-se”, reconhecer o coro das vozes para “atingir novas possibilidades cognitivas (...) de misturas imprevisíveis e casuais entre níveis racionais, perspectivos e emotivos” (Canevacci, p.17, 2004).

Com esse intuito, percorri este caminho percebendo como acontecem as situações humanas, os cenários do cotidiano e o entorno da franquia do fast-food.

No início do percurso pela avenida Generalíssimo Deodoro, observei que várias pessoas andam em ritmo acelerado para seus destinos enquanto que o transito dos automóveis, em alto volume, fica em inércia.

Após o cruzamento das Avenidas, as barracas de comida regional apresentam-se como quiosques de refeição, uma espécie de praça de alimentação na calçada onde os transeuntes esperam pelo prato de tacacá, vatapá ou maniçoba.

Adiante, a partir do cruzamento da avenida Nazaré com a alameda Dona Maria Leopoldina, o movimento de pessoas segrega a rotina cotidiana ocasionando um esvaziamento na calçada em frente a Basílica de Nazaré.

Este perímetro é marcado por uma aproximação com a perspectiva da Basílica de Nazaré e também com a entrada da franquia do fast-food. No entorno do fast-food, jovens se reúnem como um encontro marcado para uma atividade posterior.

Nesse sentido, este entorno compõe um espaço com enfoque polifônico. Segundo Canevacci, a cidade polifônica nos faz perceber o coro da cidade, para tanto, o autor se deixa perder-se para dar voz as vozes da cidade.

Neste estudo, Canevacci reconhece que a comunicação visual urbana influencia a convivência cotidiana inclusive quanto as vestimentas e conversas.

Para experimentar a cidade com enfoque polifônico, Canevacci explora o movimento futurista italiano que se tornou uma vanguarda no início do século XX e foi marcado como um movimento utópico por buscar a simultaneidade da percepção ou o reconhecimento dos movimentos sucessivos do objeto como meta da arte.

Para a análise da polifonia, Canevacci estuda o antropólogo Lévi-Strauss através do conceito de cronotopo, ou seja, o espaço temporal ou o próprio princípio do estruturalismo, como descreve:

“No contexto metropolitano os indicadores espaço-tempo se fundem numa totalidade nova e concreta: de um lado, o tempo se torna visível, anima-se, torna-se carne, ou parede, rua, edifico; de outro lado, o espaço se torna estratificado em história, incorpora o tempo, une os diversos enredos dos contos urbanos. O novo espaço-tempo é Nova York. É São Paulo. O olhar de Lévi-Strauss é – segundo a sua própria expressão – o de um entropólogo (1955:403), torna assim inteligível o tecido urbano atravessado pelas correntes que continuamente lhe destroem a ordem, correntes da desordem, ciências arquitetônicas da desordem – do colapso urbano, ou seja, da entropologia – contra a qual se ergue o pensamento organizado e organizador do antropólogo” (Canevacci, p. 88, 2004).

A polifonia presente nesta incursão pode ser percebida nas corriqueiras idas e vindas na Generalíssimo Deodoro onde aparecem dois pontos teóricos do autor Canevacci, a comunicação visual urbana e a corrente futurista ou a simultaneidade de movimentos.

 Avenida Generalíssimo Deodoro. Fonte do autor. Data: 01/09/15.

Ao percorrer a avenida Nazaré até o fast-food, o espaço permite uma análise da cultura através do cronotopo. Os quiosques de refeição junto à calçada de pedra de Lioz transmitem uma reflexão da cultura regional da cidade de Belém com suas características ribeirinhas, indígenas de sentimentos prazerosos e calmos.

A Basílica de Nazaré contribui para a contemplação da cultura popular por aproximar a religiosidade ao carisma da cultura regional.

Um recorte expressivo da cidade polifônica é percebido no final do trajeto quando a Basílica de Nazaré está em uma esquina e na outra a entrada do fast-food. São vozes que não se correspondem ou que representam um espaço temporal distinto, desordenado.

Franquia da Mc Donald´s, no fundo Basílica Santuário de Nazaré.
 Fonte do autor. Data: 01/09/15. 


REFERÊNCIAS

CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica. Ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. 2ª ed. SP, Studio Nobel, 2004.


Um comentário:

  1. Ensaio interessante, o exercício da análise e do olhar estão mais apurados.

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