Incursão no entorno do Palacete Augusto Montenegro e a Exposição “Tempo Gravado”, do artista José Fernandes.
Durante uma incursão no bairro de Nazaré, com o intuito de pesquisar qual a forma com que os transeuntes se colocam perante uma exposição artística realizada no Museu da Universidade Federal do Pará localizado na Avenida Governador José Malcher com a Avenida Generalíssimo Deodoro, em um edifício construído durante o ciclo da borracha conhecido como Palacete Augusto Montenegro, devido o mesmo ter pertencido ao Governador Augusto Montenegro, percebi que o movimento do entorno passa sem corresponder a importância deste edifício.
Porém, quando a observação de uma pessoa coincide com o cartaz exposto na fachada do edifício, há uma reflexão ou leitura da exposição e em seguida, um esquecimento, como se o momento correspondesse a um fenômeno que nos aproxima e nos distancia da realidade.
Ao entrar no Palacete, a observação do momento é outra. Desde a escadaria ao salão principal, a qualidade dos materiais arquitetônicos é marcante. Essa edificação, além de estar conservada, foi um marco do período em que foi construída quando a mesma se tornou um exemplar a ser seguido por todas construções da cidade.
Todas esquadrias externas em madeira foram trabalhadas no estilo Art Nouveau assim como a composição do piso em ladrilho hidráulico, pastinhas e tábuas claras e escuras de Pau Amarelo. Nas paredes, mármores escuros e claros estão em composição com as cores sobre tons nas paredes.
Dessa forma, a preservação do palacete causa um impacto conservador sobre as telas do artista.
Num primeiro momento da exposição, corpos abstratos são colocados inteiros nas telas com o título “De corpo inteiro”. Cada um tem uma expressão e juntos demonstram que os gestos humanos são unidos por sentimentos. Em frente aos corpos inteiros, os “Atos” dão singularidade ao momento contemporâneo, a “inquietude da realidade”.
Conforme se entra na exposição, as telas ficam abstratas, mais efêmeras, com expressões que nos remetem à abstração de Jackson Pollock ou às telas de Jean Basquiat. Num terceiro momento da exposição, as “Cabeças” expressam a face do cansaço das pessoas com velha idade, tão expressivas quanto as telas e desenhos do projeto “Belém da Memória”, cuja autoria é do mesmo artista.
É substancial discorrer sobre conceito do autor Pierre Bourdieu para a compreensão desta exposição. No artigo desenvolvido pela autora Cunha (2007), alguns dos textos etnográficos de Pierre Bourdieu foram estudados para aprofundar o conhecimento do conceito.
Segundo Cunha (2007), o conceito “capital cultural’ é central ao entendimento das relações de dominação de uma estrutura social porque trata da dimensão simbólica da luta entre diferentes grupos sociais.
Nesse sentido, o espaço social é um espaço de lutas. A cultura é um exercício da legitimação de um grupo sobre outros. Segundo a autora, nenhuma cultura é superior a outra, mas, os valores tácitos atribuídos por um grupo dominante numa dada estrutura social é que fazem dela a cultura legitima e mesmo assim a legitimidade é resultado de uma luta.
A posse do capital cultural é então o argumento para o regaste de uma cultura, uma legitimidade da cultura.
Segundo Cunha (2007), o conceito “capital cultural’ é central ao entendimento das relações de dominação de uma estrutura social porque trata da dimensão simbólica da luta entre diferentes grupos sociais.
Nesse sentido, o espaço social é um espaço de lutas. A cultura é um exercício da legitimação de um grupo sobre outros. Segundo a autora, nenhuma cultura é superior a outra, mas, os valores tácitos atribuídos por um grupo dominante numa dada estrutura social é que fazem dela a cultura legitima e mesmo assim a legitimidade é resultado de uma luta.
A posse do capital cultural é então o argumento para o regaste de uma cultura, uma legitimidade da cultura.
A autora Cunha (2007) levanta a questão: “ Qual a validade do conceito nos dias atuais? ” (Cunha, p.517, 2007). Na nova ordem mundial deve-se pensar no alcance e limites do conceito de Bourdieu.
Para Negri, a nova ordem mundial com diferentes culturas em um contexto geográfico, tem como égide uma pretensa “unidade nacional” (Negri apud Cunha, p. 517, 2007).
Na condição de se estar “entre mundos”, o autor Said coloca a ideia de “trânsfuga”, onde o sujeito colonial, aquele desterritorializadas, exilado de sua cultura, é capaz de traduzir criticamente sua origem a partir de sua posição geoestratégica (Said apud Cunha, p. 517, 2007).
É no nosso período contemporâneo, neste contexto sem fronteiras, onde se inscreve a violência simbólica que deve ser pensado o conceito capital cultural. O novo capital cultural deriva de investimentos culturais diversos e o que o assegura é sua transmissão.
Assim, a exposição do artista José Fernandes, descrita acima, nos faz refletir um novo contexto, no qual o “Tempo Gravado” pode ser o capital cultural, ou seja, um tempo intelectual registrado em telas e desenhos, e por meio de uma exposição ser transmitido.
REFERÊNCIAS
CUNHA, Maria Amália de Almeida. O conceito “capital cultural” em Pierre Bourdieu e a herança etnográfica. Perspectiva, Florianópolis, v.25, n.2, 503-524.jul/dez. 2007.