segunda-feira, 16 de março de 2015

Reconhecimento do bairro de Nazaré

As Vilas Militares

Durante uma incursão pelo bairro de Nazaré, percorri a Avenida Nazaré e a Avenida Governador José Malcher, passando pelas ruas que as cruzam, coletando dados com uma 'máquina de mão', instrumento que "aprofunda o estudo das formas de sociabilidade no mundo contemporâneo"(Rocha e Eckert, p.19, 2001), e com um caderno de anotações.

Estas duas avenidas são contempladas com sombras de árvores, as mangueiras que cobrem o céu e protegem as pessoas que transitam da água da chuva, acalmam uma trajetória etnográfica. Entre estas ruas, na Travessa 14 de março, notei que existem espaços com mais arborização e outros com menos.

Nesta primeira incursão pela paisagem do bairro de Nazaré, percebi que algumas árvores não tinham suas raízes presentes nas calçadas, as quais me chamaram a atenção para uma vila militar que possui uma implantação, urbanização, tipologia e estilo arquitetônico próprio.

Segundo Bonates e Valença (2010), as vilas militares são compostas por não mais do que 50 blocos de apartamentos, aproximadamente. A produção imobiliária destas vilas se expandiu ao longo da primeira metade do século XX até a década de 60 em meio a 'modernização do Exército', que para os autores, a ideia desta expansão era "estabelecer um Exército profissional, com a formação de um tipo de soldado-cidadão para servir a nação" (Bonates e Valença, 2010).

Estas vilas não são diferentes somente em sua implantação e urbanização, mas também em outras características como a vivência e o cotidiano, com normas sociais e regras de conduta bem estabelecidas. Segundo os autores, até hoje são construídas vilas militares, no entanto, em pequeno número.

O auge da produção deste tipo de habitação se desenvolveu junto com o movimento modernista.A partir desta época, as arquiteturas das vilas sofreram mudanças, mas contudo, existem vilas que são de outros estilos como as ecléticas, as neocoloniais ou mesmo as regionais.

Esta vila que percebi pelas sombras das árvores se apresentava como um silêncio de um jardim, um cenário urbano distinto, que tem a arquitetura no estilo regional com varandas em madeira, telhados de quatro águas e com recuos de fachada, o que lembra a época em que não existia muito barulho nas ruas, época em que a rua era segura.

Vila Militar na Tv. 14 de março. Desenho Gráfico. Fonte do Autor.

No intuito de conhecer vilas militares para entender um pouco mais sobre os espaços que ampliam a beleza da paisagem cultural do bairro, pesquisei através do artigo publicado pelos autores Azevedo e Miranda (2013), intitulado: 'Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado pela Etnografia de Rua'.

Em uma citação do texto, localizei a vila militar ou conjunto militar que os autores colocam enquanto estavam percorrendo a Av. Gov. José Malcher: "Já nas próximas quadras há um conjunto militar, entre Quintino e a Avenida Visconde de Souza Franco, que possuem azulejos, varanda com guarda corpo de madeira e frontão ondulado" (Azevedo e Miranda, p.378, 2013).

Ao me aproximar desta vila militar, olhando-a da esquina, pela repetição das fachadas e com a descrição feita pelos autores, lembrei que esta mesma tem uma abertura para a Travessa João Balbi, por onde se vê que existe uma rua interna com portaria e nome (Passagem Salgado Filho).

O estilo arquitetônico neocolonial pertence a uma época em que foram construídas arquiteturas que representavam a 'brasilidade', tinha como proposta uma arquitetura que concebesse o passado colonial brasileiro como fonte de tradição histórica e artística nacional, com elementos de composição das construções do tempo da colônia, diferentemente das arquiteturas que vinham sendo produzidas em território nacional.

O termo neocolonial foi utilizado por países da América Latina para combater as arquiteturas cosmopolitas, universalizantes e europeizantes, buscando o retorno de uma tradição arquitetônica autêntica nacional. Porém, com a expansão do movimento modernista, o estilo neocolonial, consolidado na década de 1920, perderia suas forças.

A importância de existir uma vila militar no estilo neocolonial no bairro de Nazaré é significativa. Representa uma parte da história da cidade de Belém, a ocupação do território pelas Forças Armadas, que se preocuparam em afirmar a identidade nacional.

Faço esse desenho para relembrar a afirmação, por parte das Forças Armadas, da identidade nacional.

Vila Militar na Av. Gov. José Malcher. Desenho Gráfico. Fonte do Autor.

Contudo, é a paisagem cultural do bairro de Nazaré, contemplada pela diversidade arquitetônica, que pode um dia ser preservada. É importante que esta seja entendida como um todo, como um bem, e não somente como parte de um bairro.

As vilas militares são uma peculiaridade do bairro que permitem o estudo de uma época e de certo modo, o que deve ser lembrado e esquecido. 


REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Felipe Moreira; MIRANDA, Cybelle Salvador. Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado pela Etnografia de Rua. ANAIS - 7º Seminário Internacional em Memória e Patrimônio, Pelotas, 2013.

BONATES, Mariana Fialho, VALENÇA, Márcio Moraes. Vilas Militares no Brasil. Site: vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.125/3570
ROCHA, Ana Luiza; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua: estudo de antropologia urbana. Iluminuras - Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001, nº 44.

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