O valor histórico e o comemorativo
Com o propósito de repensar a cidade de Belém a partir do bairro de Nazaré tendo como objetivo realizar um estudo sobre a paisagem cultural e assim, dar possibilidades a preservação da identidade do mesmo, fiz uma incursão pelo bairro tendo conhecimento sobre o personagem baudelairiano, o flâneur.
Esta proposta propõe uma caminhada pela cidade em um percurso sem compromissos, sem destinos fixos. O flâneur percebe a cidade concebendo o movimento urbano, observando sua estrutura e suas relações sociais, econômicas, políticas, estéticas, etc. Para as autoras Rocha e Eckert (2001), a cidade deste andarilho conta uma história, como descrevem:
Com o propósito de repensar a cidade de Belém a partir do bairro de Nazaré tendo como objetivo realizar um estudo sobre a paisagem cultural e assim, dar possibilidades a preservação da identidade do mesmo, fiz uma incursão pelo bairro tendo conhecimento sobre o personagem baudelairiano, o flâneur.
Esta proposta propõe uma caminhada pela cidade em um percurso sem compromissos, sem destinos fixos. O flâneur percebe a cidade concebendo o movimento urbano, observando sua estrutura e suas relações sociais, econômicas, políticas, estéticas, etc. Para as autoras Rocha e Eckert (2001), a cidade deste andarilho conta uma história, como descrevem:
"A cidade acolhe seus passos, e ela passa a existir na existência deste que vive, na instância de seu itinerário, um traçado que encobre um sentido, algo que será desvendado ao seu final. Espaços, cheiros, barulhos, pessoas, objetos e naturezas que o caminhante experiencia em sua itinerância, não sem figuras pré-concebidas. Sua caminhada é de natureza egocêntrica, funcional, mas também poética, fabulatória e afetiva, e por que não dizer, uma caminhada cosmológica como os jogos de memória que os tempos reencontrados proustinianos encenam." (Rocha e Eckert, p.1, 2001).
No início, ao percorrer a Avenida Governador José Malcher, percebi que algumas arquiteturas se destacam na paisagem pela conservação de sua aparência.
Entre os estilos, estão as modernas, como os arranha-céus do século XXI, as habitações com fachadas lisas em concreto que utilizam uma econômica linguagem, também se destacam as casas antigas, tanto quando recebem uma intervenção de restauro ou mesmo quando são abandonadas, foi assim que tive uma compreensão sobre o bairro.
Através destas representações antigas e atuais, é possível conhecer a história da cidade, seu desenvolvimento, sua expansão e como a cidade permanece.
Entre os estilos, estão as modernas, como os arranha-céus do século XXI, as habitações com fachadas lisas em concreto que utilizam uma econômica linguagem, também se destacam as casas antigas, tanto quando recebem uma intervenção de restauro ou mesmo quando são abandonadas, foi assim que tive uma compreensão sobre o bairro.
Através destas representações antigas e atuais, é possível conhecer a história da cidade, seu desenvolvimento, sua expansão e como a cidade permanece.
Nessa incursão, entre a avenida Alm. Wandenkolk e a Visconde de Souza Franco, houve uma situação quando, por um instante, o tráfego de automóveis se intensificou, um cheiro de pneu subiu nas calçadas, nenhuma pessoa ao redor, nenhuma parada de ônibus, apenas a calçada e uma arquitetura esquecida pelo tempo, prestes a desabar pelo peso da vegetação nascendo em suas paredes.
A proposta de registrar uma arquitetura antiga e abandonada para contar que a mesma tem uma tipologia neoclássica com platibanda, escada e porão, esquadrias em arcos, tem como ideia transmitir uma lembrança de uma época.
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Casarão na Gov. José Malcher entre Wandenkolk e Av. Visconde de Souza Franco. Desenho Gráfico. Fonte do Autor |
No caminhar desta avenida, observei que o que destaca as arquiteturas, em grande parte, são
valores de memória. A situação do casarão abandonado me fez refletir um
pensamento de Riegl, pois, o que impacta o observador pode ser seu valor de
memória o qual justifica um valor histórico, um estágio evolutivo de uma época
que foi importante.
Nesse sentido, segundo Riegl (2014), a "criação original como obra humana" traduz o valor histórico relacionado aos valores de memória e não as "influências de degradação da natureza" (Riegl, p.55, 2014). Assim, mesmo com sua aparência deteriorada, esse casarão pertence a uma época com importância para a cidade e seu estilo remonta uma origem antiga.
Nesse sentido, segundo Riegl (2014), a "criação original como obra humana" traduz o valor histórico relacionado aos valores de memória e não as "influências de degradação da natureza" (Riegl, p.55, 2014). Assim, mesmo com sua aparência deteriorada, esse casarão pertence a uma época com importância para a cidade e seu estilo remonta uma origem antiga.
Em pouca distância, a um quarteirão e meio, na esquina da José Malcher com a travessa Dom. Romualdo de Seixas, uma edificação restaurada do estilo neoclássico preenche a vista pelas suas cores, com tons ocres, detalhes brancos e bem localizada, com duas fachadas expostas, sem nenhuma obstrução.
Os traços desta obra são marcados por uma tendência arquitetônica que embora grande parte tenha sido produzida no Brasil com recursos simplórios, durante 1820 até o final do século XIX, representa uma busca pela linguagem da antiguidade, um estilo caracterizado pela releitura de elementos da arquitetura grega e romana.
Suas afirmações como uma corrente estilística podem ser entendidas como uma reação aos excessos decorativos provocados pelo barroco e pelo rococó, e pela descoberta arqueológica da cidade de Pompéia, em 1748, a qual possibilitou um vasto conhecimento sobre a vida cotidiana na antiguidade.
Em volta do prédio, passam carros e motos, na travessa Dom. Romualdo de Seixas, veículos de maior porte são poucos, enquanto que na José Malcher, o caos está presente desde seu início, no bairro de São Braz, até seu final, nos limites do bairro de Nazaré, constante pela manhã e pela tarde. O que ocorre nesta esquina é uma mudança brusca entre tranquilidade e trânsito.
Contemplar este exemplar em uma caminhada sem compromisso, sem destino fixo, apenas percebe-la em um todo, traduz outro valor, o valor volível de memória ou o comemorativo, um valor que tem “o objetivo de (...) nunca deixar, de certa forma, que um momento faça parte do passado, permitindo que permaneça na consciência das gerações futuras, sempre presente e vivo.” (Riegl, p.63, 2014).
Nesse exemplo, o restauro do edifício neoclássico torna a apreciação adequada, causa a impressão do momento em que o edifício foi construído. Dessa forma, desenho este exemplar para mantê-lo vivo em nossa memória.
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Edifício Neoclássico na Gov. José Malcher com a Tv. Dom. Romualdo de Seixas. Desenho Gráfico. Fonte do Autor. |
Em menos de duas quadras do bairro de Nazaré pode-se ver o que foi esquecido e preservado. Duas arquiteturas produzidas em períodos próximos com impactos distintos.
Nesse sentido, a autora Bogea coloca que "os ambientes construídos pelos homens guardam, através de sua materialidade, a memória das idéias, das práticas sociais e dos sistemas de representação dos indivíduos que ali convivem", e acrescenta que é "impossível e inconveniente querer manter integralmente a memória materializada na produção cultural" (Bogea, p.3, 2009), a seleção do que recordar ou esquecer acontece com as partes que se pretendem manter vivas.
A autora enfatiza, perante a seleção das partes do patrimônio, que é a ação crítica que fará a continuidade do bem, sem contudo querer preservar sua totalidade material por não se controlar ou fixar o tempo passado.
Assim, a gama de conhecimentos deste perímetro deve ter um estudo correspondente, capaz de enxergar seus detalhes.
Pretende-se, através deste blog, pesquisar o universo que há neste bairro e a cada percurso, de passo a passo, chegar a uma equação entre patrimônio material e imaterial, para com a paisagem cultural, uma forma integradora de preservação do patrimônio, compor um modo de educar a quem almeja dar significado a este bairro.
REFERÊNCIAS
BOGEA, Marta. Esquecer para preservar/ Forget to preserve. Arqutextos, UFRG, 2009.
RIEGL, Alois. 1858-1905. O culto moderno dos monumentos: a essência e a sua origem. 1ª edição. SP : Perspectiva, 2014.
ROCHA, Ana Luiza; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua : estudo de antropologia urbana. Iluminuras – Banco de Imagens e Efeitos Visuais, PPGAS/UFRGS, 2001.n° 44.